quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Da minha fome...

... não falo
É normal.
Da minha fome não falo.
Grito-a
em áridos desertos.
Escrevo-a, em folhas vazias
Esvazio-a, em almas estéreis.
Despejo-a, em corpos tão famintos como o meu.
Da minha fome não falo.
Notam-se apenas vestígios.
Adivinham-se somente os sinais.
Da minha fome, mesmo muda,
sou escrava.
Da minha avidez,
escondida,
prisioneira.
na minha fome, murcho e definho.
Mas nela, combato e resisto.
e vivo!

Lua Adversa


Tenho fase, como a lua
Fases de andar escondida,
Fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser lua,
Tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
e, quando chega esse dia,
                                                          o outro desapareceu...